Oscilações e quedas de energia tiram rondonienses do sério

Oscilações e quedas de energia tiram rondonienses do sério
Oscilações e quedas de energia tiram rondonienses do sério

Depois de se unir e protestar contra aumento considerado abusivo nas tarifas de energia elétrica, sem obter o resultado desejado, a população rondoniense volta a enfrentar problemas com a Energisa (antiga Ceron), empresa responsável pelo fornecimento de energia elétrica no estado. O descontentamento em relação aos valores cobrados agora se junta à deterioração da qualidade da energia distribuída: quedas e oscilações constantes são registradas em praticamente todos os municípios, causando prejuízos, desconforto e inconvenientes dos mais diversos.

As quedas e oscilações na rede elétrica não são novidade, mas desde o mês passado elas se intensificaram de maneira a revoltar ainda mais os milhares de consumidores afetados. As redes sociais foram lotadas de reclamações contra os serviços da Energisa. Esse foi o principal meio encontrado para pedidos providências à empresa e às autoridades.

Apesar da enxurrada de críticas, Energisa insiste na ineficácia dos serviços prestados à população

O descaso da concessionária quanto ao atendimento ao consumidor é outro item citado. Para se ter uma ideia da situação, em Vilhena, apenas no dia 5 deste mês, moradores chegaram a registrar cerca de dez abalos na energia elétrica. O problema ocorreu em vários bairros, a exemplo do Embratel, Setor 6, Alto Alegre, Bela Vista, Industrial Tancredo Neves, 5º BEC e centro, sendo que a grande maioria já sofria com as quedas de energia constantes, como é o caso do Bairro 5º BEC – um dos mais antigos da cidade, localizado na região central.

Relatos de moradores em redes sociais apontaram a deficiência do setor de energia, afirmando que a situação coloca em risco a integridade de aparelhos elétricos e eletrônicos, e causa desconforto. Segundo informações, as quedas são rápidas e  bruscas, justamente do tipo que estraga aparelhos ligados à rede elétrica.

A cabeleireira Sandra Gouveia, de Vilhena, é uma das vítimas da ineficácia da concessionária. “Acho o cúmulo a Energisa cobrar valores tão altos e, ainda por cima, oferecer um serviço de tão baixa qualidade. Estou tendo prejuízos em meu salão, pois não há como eu atender meus clientes sem luz elétrica ou em meia-fase, o que acontece toda hora. Virou rotina eu desmarcar os horários e perder serviços devido às quedas e oscilações de energia”, desabafa a cabeleireira à Revista SÉCULO.

O descontentamento dos rondonienses também chegou ao Procon e à Adore, órgãos de defesa do consumidor. Segundo o jornalista Edilson Neves, do site Correio de Notícias de Rondônia (Porto Velho), a Energisa lidera o ranking de reclamações no estado.

De acordo com ele, num levantamento feito pela Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon/RO), na avaliação dos consumidores, a Energisa tem o pior índice de qualidade de serviços prestados à população já registrado pelo órgão.

A maior indignação está no fato de Rondônia ser um estado produtor de energia elétrica, com duas usinas hidrelétricas (Jirau e Santo Antônio) que juntas produzem mais de 7.000 megawatts, suficientes para iluminar todo o estado.

Soma-se ainda a essa quantidade a usina de Samuel, que produz mais de 200 megawatts. Rondônia é exportadora de energia, o que dificulta sobremaneira aos consumidores entenderem o motivo de tarifas altas e serviços ruins.

Sandra Gouveia: “Meia-fase virou rotina”

A cabeleireira Sandra Gouveia foi uma das pessoas que procuraram o Procon para fazer ocorrência. “Quero explicações da empresa e ressarcimento dos meus prejuízos”, adiantou, complementando que voltaria ao Procon para uma nova queixa: “Mesmo com as minhas contas de luz pagas, eu recebi aviso de cobrança com ameaça de inscrição do meu nome no Serasa”, expôs.

O levantamento da Superintendência do órgão constatou que somente contra a Energisa, de janeiro até do dia 9 deste mês, foram registradas mais de 1, 5 mil reclamações.

JI-PARANÁ

Na Cidade Coração de Rondônia a situação não é diferente. Conforme Matheus Cassimiro, proprietário da Página Rondoniense (virtual), os contratempos no abastecimento de luz no município são frequentes. “Vejo uma imensa falta de respeito com o cidadão quanto às coisas que a Energisa tem feito, como os aumentos abusivos que estão sendo cobrados da população e a má qualidade dos serviços prestados. Isso tem deixado não só eu, mas muitas pessoas que me acompanham, através das redes sociais, irritadas e indignadas com a situação.

Matheus Cassimiro recebe apoio de seguidores contra a concessionária

Além do aumento que vejo ser injusto com o cidadão rondoniense, nós também temos que suportar quedas de energia que nos prejudicam em várias situações. Alguns seguidores citaram que estariam com medo de perder alguns eletrodomésticos por conta das quedas”, relata Matheus. Ele complementa que, “as pessoas que vêem a Página Rondoniense já presenciaram inúmeras vezes que constatei as quedas de energia, fiz críticas sociais sobre os aumentos abusivos e sobre o corte de fornecimento de energia das pessoas que não tiveram condição financeira para efetuar o pagamento, pois as contas vieram altas demais. Mas, infelizmente hoje essa é a nossa realidade”.

PORTO VELHO

Em Porto Velho, o médico veterinário Francisco Ronaldo Martins Filho considera que o atendimento da Energisa deixa muito a desejar. “Faz quatro meses que pedimos  uma ligação deenergia rural e até hoje (13/09) ela não foi feita. A insatisfação é geral,  pois a empresa, até o presente momento, não demonstrou seriedade: o atendimento ao público está precário e não temos conhecimento de  nenhum serviço de ampliação de rede, muito menos implantação de redes novas, deixando a população, principalmente da zona rural, desassistida. As pessoas ficam sem o serviço e sem outra opção, uma vez que não há outra empresa para executar esse trabalho”.

Ronaldo Martins avalia como absurdos os valores cobrados pela empresa, assim como o pagamento de taxas, a exemplo de iluminação pública, por moradores até da região agrícola. Ele condena, ainda, as bandeiras tarifárias que elavam as contas de luz. “Para aumentar a revolta, nós pagamos uma das energias mais caras do Brasil, mesmo com duas grandes usinas em nosso território”.

GUAJARÁ-MIRIM

Da fronteira com a Bolívia, o instrutor de trânsito Joséllyson Fernandes é mais um que confirma o descontentamento dos rondonienses de todas a partes do estado. “Só como exemplo, em minha casa, no Centro, faltou luz por 13 horas entre os dias 13 e 14 deste mês. Já no dia 15 ficamos sem energia das 9 às 16 horas. E o atendimento da  empresa aos clientes está cada vez pior, pois sequer mantém um plantão para casos como estes. Pergunto-me até quando os rondonienses terão que suportar essa situação”, indaga o instrutor.

ZONA RURAL

De Norte a Sul de Rondônia as reclamações são ainda maiores quando se trata do fornecimento de energia para a zona rural. Tomase, por exemplo, uma ocorrência em Vilhena, publicada pelo site Folha do Sul, sobre um casal de idoso que ficou doze dias sem luz elétrica em sua pequena propriedade.

A situação dramática foi vivida pelos agricultores Francisco Vieira Pinho (60) e Silvana Balbo (54) que residem no distrito de Cascalheira, a 50 quilômetros da sede do município. O transformador da casa em que moram queimou e nos vários pedidos de socorro feitos à Energisa, por telefone, a informação recebida era de que a distribuidora estava com deficiência de pessoal, priorizando o atendimento na área urbana. Com a interrupção da energia, os idosos não podiam mais estocar carne nem contar com água encanada, entre outros incômodos.

MEDIDORES LACRADOS

Moradores ainda falam de mais uma ação questionável da Energisa: a lacração de medidores de energia, o que configuraria violação à Resolução 456, de 29 de novembro de 2000, que estabelece as condições para fornecimento de energia no país. Um dos casos aconteceu com o morador de Ariquemes, Thiago Souza, e foi exposto em redes sociais. A ação da Energisa, segundo Thiago, teria ocorrido depois que o morador conseguiu reduzir a conta de luz de R$ 500 para pouco mais de R$ 300.

Ele contou que funcionários da concessionária foram até sua casa para fazer a substituição do medidor de energia e  “blindaram” a caixa do padrão, que armazena o relógio. Thiago destacou que a visita da empresa sequer teve aviso prévio, citando que, pela lei, “a substituição de equipamentos de medição deverá ser comunicada por meio de  correspondência específica ao consumidor quando da execução desse serviço, com informações referentes às leituras do medidor retirado e do instalado”.

Outra pessoa que postou foto da caixa padrão lacrada foi Adriano Carneiro, de Porto Velho. Além da infração à resolução, a Energisa pode ser acionada judicialmente por danos morais, uma vez que a “blindagem” do medidor daria a entender que tais clientes não seriam confiáveis.

MOBILIZAÇÃO

Diversas autoridades do estado se manifestam contra a deficiência no fornecimento de luz elétrica e os valores das contas cobrados em Rondônia, classificados como abusivos, absurdos e inadmissíveis. Outra acusação contra a concessionária diz respeito a possíveis irregularidades nos medidores de energia elétrica.

O presidente da Associação em Defesa dos Direitos e Garantias do Povo de Rondônia (Adoro), Jesuíno Boabaid, afirma que recebeu várias denúncias de consumidores, entre os quais, pessoas com capacidade  técnica, que lhe informaram a seguinte situação: os relógios chegariam de forma regular na empresa distribuidora de energia e, nela, os aparelhos seriam mandados para um setor fazer uma alteração aumentando os números na hora da medição do consumo e resultando em maior o valor das tarifas. Caso as denúncias de fraude nos medidores se confirme será um crime por parte da concessionária. A denúncia foi apresentada ao presidente da ALE, Laerte Gomes (PSDB), com pedido de providências.

SOB INVESTIGAÇÃO

Em resposta, Laerte Gomes esclareceu que a ALE estava recebendo inúmeras reclamações de moradores e que os deputados estavam tomando uma atitude em defesa da população.

Laerte Gomes: instauração de CPI para apurar denúncias de práticas abusivas contra os consumidores de energia elétrica

“De Nova Mamoré a Costa Marques e de Porto Velho a Vilhena o número de reclamações contra a Energisa é absurdo. Precisamos apurar as denúncias de que relógios estão sendo adulterados, o aumento substancial nas contas de energia e cortes feitos durante os finais de semana, desrespeitando uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa e a própria recomendação na Aneel”, disse o presidente.

No dia 17 deste mês, os deputados aprovaram a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os procedimentos da Energisa. O requerimento nesse sentido foi apresentado pelo deputado Alex Redano (PRB) e teve a assinatura de onze parlamentares. A CPI é composta por cinco membros indicados por seus partidos e terá duração de noventa dias, podendo ser prorrogada.

Alex Redano, autor do pedido de criação da CPI contra a Energisa

As denúncias contra a distribuidora de energia estão sendo discutidas, também, na Câmara dos Deputados e promotorias de Justiça.

TENTATIVAS VÃS

A reportagem de SÉCULO fez contato com os departamentos de Comunicação da Energisa de Porto Velho (Tamires Garcia) e do Rio de Janeiro (Douglas Mota) para ouvir a concessionária sobre as críticas da população, sobre o que estava sendo feito para sanar os problemas no fornecimento de energia e como era vista a criação de uma CPI pelos deputados para apurar possíveis irregularidades nos serviços da empresa, entre outros questionamentos. As respostas seriam enviadas à revista por e-mail, coisa que não aconteceu até o fechamento desta edição, às 19:00 do dia 20/09/2019

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