Entre laços e (des)enlaces do novelo da vida
A vida e seus nós. É possível chegar a meio-século e desembaraçar todos os emaranhados? Para entender essa metáfora do novelo de lã, as escritoras, amigas e médicas Fernanda Tavares e Daniele Oliveira apresentam uma narrativa reflexiva sobre a chegada aos 50 anos. A personagem principal, Priscila Weinberg, encontra-se no limiar da nova fase e começa a revisitar o passado na tentativa de compreender e aceitar as complexidades da vida.
O meio século chegou. E daí? se desdobra em um diálogo contínuo entre Priscila e a amiga psiquiatra e cartomante, Dora. Esta oferece conselhos ao final de cada capítulo, o que proporciona uma visão ampla sobre os dilemas apresentados. As histórias, fictícias, foram inspiradas na vivência das próprias autoras e também em relatos de amigas e pacientes.
Nesse “emaranhado” de questões, a dupla tece um texto ao mesmo temo filosófico e divertido. Os temas sensíveis vão além do etarismo: positividade tóxica, relacionamentos, amor romântico, sexualidade, conflitos geracionais, saúde mental, responsabilidade afetiva, e, ainda, todos os tipos de violência contra a mulher, sobretudo a emocional.
As evidências de abuso eram enormes e mesmo assim, como acontece com tantas mulheres, mesmo eu, tão esperta, inteligente e casca grossa, deixei-me levar por essa ladainha louca, na qual deveria ter dado um basta há muito tempo. Eis o primeiro dos copos. Eu estava enfeitiçada, não sei a descrição exata, mas estava tomada de uma sensação que hoje diria ser cega, hipnótica, qualquer coisa do tipo. Normal não era. Fui totalmente manipulada por alguém que nada tinha a me oferecer. (O meio século chegou: e daí?, p. 94)
Priscila passa as mais de 300 páginas desta autoficção em busca de “alisar” o novelo surrado pelas cinco décadas de “enrolamento”. Ao longo de todo o processo, descobre que aceitar a textura natural — cheia de emaranhados — é onde reside a verdadeira beleza da vida. Acolher as imperfeições se revela encorajador e se alinha com a mensagem central da obra: viver o presente com intensidade, aprender com o passado e sem se preocupar excessivamente com o futuro – afinal, aos 50 anos, ainda há muito a se viver.
Fonte: Assessoria