Neste sábado (26), o Jongo — tradição ancestral afro-brasileira — celebra 20 anos desde que foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Para marcar a data, mestres, mestras e jongueiros se reúnem no 4º Encontro de Jongos do Vale do Café, em Pinheiral (RJ), berço histórico dessa manifestação cultural.
Com raízes fincadas nas comunidades negras descendentes de povos Bantu (especialmente do Congo, Angola e Moçambique), o Jongo mistura dança, canto e toques de tambor em uma expressão de identidade, espiritualidade e resistência. A manifestação é forte nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, especialmente nas regiões que abrigaram antigas lavouras de café.
Segundo a Mestra Fatinha, uma das matriarcas do Jongo do Pinheiral, a tradição é passada oralmente de geração em geração. “Antigamente, criança nem podia dançar Jongo. Hoje, fazemos questão de incluir os pequenos para manter viva a raiz e a tradição”, contou. Ela participa desde a infância e hoje vê a nova geração, como o pequeno Deric, de 4 anos, já chamado de “jongueirinho”.
O evento em Pinheiral, no Parque das Ruínas — área que pertenceu à família Breves, considerada uma das maiores proprietárias de pessoas escravizadas no Brasil — terá tambores ecoando o dia inteiro, além de apresentações, rodas e oficinas. A proposta é ressignificar o local com a construção do Parque Temático do Negro no Vale do Café, que já teve o projeto selecionado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
“Aquele espaço que escravizou os antepassados das mestras, agora é dirigido por elas. Isso é histórico”, disse Marcos André Carvalho, coordenador do encontro. O parque abrigará a futura Escola de Jongo, o Museu do Jongo e um centro de gastronomia e turismo étnico, com previsão de inauguração em 2027.
A celebração também se estende à capital: entre os dias 14 e 16 de agosto, o Encontro de Jongueiros na Praça Tiradentes, no centro do Rio, vai reunir cerca de 400 jongueiros de 18 comunidades. Haverá rodas de Jongo, oficinas, shows de samba, exibição de curtas-metragens e o lançamento do portal digital Museu do Jongo, com mais de 5 mil registros audiovisuais.
Além de sua importância cultural, o Jongo também é reconhecido como uma das raízes do samba carioca. “Muitos fundadores de escolas de samba vieram dessas comunidades. Mangueira, Portela, Salgueiro, Império Serrano… todos têm o Jongo em sua base”, lembrou a professora Martha Abreu, da UFF.
Neste 26 de julho, também Dia de Senhora Sant’Ana — sincretizada como Nanã —, o Jongo reafirma sua força como expressão da ancestralidade negra e símbolo da luta por memória, justiça e bem viver.
Fonte: Agência Brasil
0 Comentários