Estudante passa em Engenharia Civil na USP e é impedida de entrar na Universidade

Estudante passa em Engenharia Civil na USP e é impedida de entrar na Universidade

Elisa Flemer cursou o ensino médio na modalidade de educação domiciliar e já foi aprovada em outra universidade aos 16 anos

Elisa de Oliveira Flemer, atualmente com 17 anos, foi aprovada no curso de Engenharia Civil na Universidade de São Paulo (USP), por meio do Sisu. Apesar de ser uma grande conquista, a aprovação trouxe diversos desdobramentos que impediram que a estudante realizasse sua matrícula e passasse a frequentar a Universidade.

A estudante, que estudou os três anos do ensino médio na modalidade de homeschooling, conta que sempre amou estudar, mas começou a se sentir deslocada nas escolas tradicionais a partir do 7º ano do ensino fundamental. “As aulas ficaram mais formais e quando isso aconteceu, eu fiquei com um pouco de facilidade nas matérias porque eu aprendo melhor visualmente, logo, eu conseguia ler a apostila no início da aula, entender o conteúdo,  fazer a lição, e terminar a matéria do dia em poucos minutos”.

Com isso, Elisa conta que ficava muitos minutos sem poder realizar outras atividades, já que seus professores não permitiam que ela fizesse atividades de outras disciplinas, lesse um livro ou fizesse qualquer outra atividade educativa. “Eu ficava forçada a olhar para a parede por horas. Isso era extremamente frustrante”, conta Elisa.

Foi aí, então, que a estudante descobriu que existia muito conteúdo disponível na internet. Depois de passar por quatro escolas na tentativa de encontrar uma em que se adaptasse, Elisa e sua mãe, Cassia, decidiram optar pela educação domiciliar. Segundo a Cartilha Educação Domiciliar, lançada pelo MEC, essa modalidade de ensino tem vistas ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a vida, exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.

Seguindo um exigente plano de ensino, Elisa conseguiu sua primeira aprovação no ensino superior aos 16 anos, enquanto cursava o segundo ano do ensino médio em homeschooling, na Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens).

A estudante frequentou a Universidade durante dois meses, mas foi impedida de continuar assistindo às aulas, pois mesmo com a liminar judicial, Elisa não pôde efetuar sua matrícula. Menos de dois anos depois, veio a segunda aprovação, agora, na USP. Novamente, a estudante entrou com liminar na justiça para garantir seu direito de ocupar a vaga. O processo, que foi iniciado em fevereiro de 2020, teve atualização em março de 2021, concedendo o direito de se matricular na Universidade. Porém, Elisa não se sente confiante em realizar a matrícula e começar a acompanhar as aulas, já que a qualquer momento outros desdobramentos podem ser desencadeados no processo judicial.

Mesmo diante de tantas burocracias, a estudante se viu com a oportunidade de fazer algo que sempre sonhou: fazer com que outras pessoas conheçam e entendam outras modalidades de ensino que não seja presencialmente numa escola padrão. “De repente, eu percebi que tinha a chance de fazer algo incrível neste ano. Eu tinha uma oportunidade única de falar sobre o homeschooling, de conhecer pessoas incríveis, de criar conteúdo criar relacionado ao aprendizado, de falar sobre como outras pessoas podem começar a gostar de aprender como eu gosto”, afirmou Elisa.

Além disso, com os desdobramentos do caso, Elisa ganhou uma bolsa para conhecer e passar uma semana no Vale do Silício, e uma bolsa para cursar, on-line, duas disciplinas de engenharia, em uma faculdade americana. Ter a oportunidade de falar a respeito da educação domiciliar também é uma conquista para a estudante. “Tem sido muito gratificante poder falar com tanta gente e poder falar sobre educação. Eu percebo que muitas pessoas, já que as escolas são tão rígidas e tão engessadas, saem da escola sem saber aprender sozinhos”.

Durante sua trajetória em busca de adaptação em uma escola tradicional, Elisa relata um episódio que a marcou. “Eu fui de escola em escola sendo vista como uma aluna-problema, por querer aprender mais, por querer ir mais rápido, por querer ir além do que o sistema pediu. Eu cheguei a uma escola pública aqui de São Paulo e a diretoria falou que ela desejava que não houvesse mais estudantes como eu, porque eu dava muito trabalho”.

Flemer rebate, ainda, as críticas disparadas em relação ao convívio na escola. “Eu acho que as pessoas têm uma noção meio idealizada do que é esse convívio social na escola. Na escola, a criança tem cinco minutos na entrada cinco minutos na saída, e quinze minutos de intervalo, e nos quinze minutos de intervalo você tem que comer, ir ao banheiro e dar um oi para alguém. É algo extremamente artificial, não é um ambiente favorável”, afirma.

 Fonte: MEC  

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