“Não dei a ordem para matarem meu marido”, diz viúva de jovem executado por traficantes

“Não dei a ordem para matarem meu marido”, diz viúva de jovem executado por traficantes

Ela culpa a imprensa de ter divulgado um Boletim de Ocorrência registrado por ela horas antes do crime e que teria culminado com a execução do rapaz

Por Maria R. Gabriela

Hoje faz uma semana que o jovem Anderson Luiz Rauta, de 32 anos, foi vítima de homicídio a tiros numa área rural próxima à Vilhena. O crime, segundo um amigo que estava com ele e também foi baleado, foi cometido por traficantes.

A morte de Anderson se deu após os traficantes saberem que a esposa da vítima, Krys, havia registrado um Boletim de Ocorrência sobre o desaparecimento do marido com uma moto que estava no nome dela. A mulher teria exposto a preocupação de que o veículo tivesse sido negociado numa “boca de fumo” pelo marido, que há anos lutava para se livrar da dependência química.

A partir disso, surgiu a versão de que um dos bandidos teria ligado e exigido o pagamento de R$ 800 para cobrir as despesas de compra de entorpecentes que teria sido feita por Anderson mediante a “penhora” da moto. Se houvesse o pagamento, o veículo seria liberado. Caso contrário, Anderson pagaria com a própria vida. A esta ameaça, a esposa teria respondido: “Pode matar ele”.

Krys, no entanto, nega que tenha dado tal resposta e até mesmo que tenha recebido ligação de traficante. “Quem me ligou foi meu marido, que pediu R$ 800 para pagar uma dívida. Eu neguei, mas ele não disse nada sobre estar sendo ameaçado e garantiu que a moto estava com ele. Eu sempre acompanhava o Anderson em todos os lugares, quando ele não estava trabalhando, como forma dele não desviar de seu caminho e ir atrás de drogas. Mas, era difícil, pois ele sempre procurava em bocas de fumo e gastava muito dinheiro com isso”, conta a viúva.

A mulher ressalta que, “naquele dia, ele só saiu sozinho porque pegou a moto dizendo que ia socorrer o pai, que estaria com o carro quebrado. Porém, como ele estava demorando muito, acessei minha conta bancária no aplicativo do celular e vi que ele havia sacado R$ 200, uma vez que estava com o cartão. Para que mais dinheiro não fosse retirado, eu passei todo o saldo restante para a conta de minha mãe. Foi aí que Anderson teve que me ligar pedindo o dinheiro, que recusei a dar sem saber o que poderia acontecer com ele”.

Ela faz um apelo aos internautas: ” Peço para as pessoas que não julguem ou falem mal do meu marido, pois, mesmo com os problemas dele, era uma pessoa de bom caráter e bem melhor do que muita gente que venha a se achar no direito de falar qualquer coisa ruim sobre ele. Ser dependente não é sem-vergonhice, é uma doença e peço, por favor, que entendam isso e respeitem a memória do Anderson”.

A entrevistada declara que, “eu falei pra meu marido voltar para casa e ele disse que voltaria. Depois liguei novamente para ele e o celular já não foi atendido. Como estava muito preocupada, continuei ligando durante a tarde até que uma pessoa atendeu e disse que não sabia quem era o Anderson. À noite, veio a notícia do que tinham feito com ele. Fiquei em choque, pois tinha dado tanto conselhos pra ele ficar longe dessas coisas e de nada havia adiantado. Eu não vi meu marido morto, nem mesmo na funerária. Minha mãe arrumou o corpo dele, pois eu não aguentaria vê-lo naquela situação.  Agora, terei que criar nosso filho sozinha, mas creio que Deus me abençoará me dando forças para seguir em frente”.

Krys destaca que, apesar da dependência química, Anderson era um excelente pai e marido. “Eu não trabalhava fora porque ele preferia que eu cuidasse de nosso filho, que ele amava muito. Também jamais deixou faltar nada em casa.  A gente brigava, sim, mas sempre porque eu queria que ele largasse as drogas. Era comum meu esposo me ligar pedindo dinheiro para custear o vício, mas, naquele dia, ele tinha pego o meu cartão e pago a primeira parte sem eu saber”.

Krys esclarece que, “eu não fiz nada contra os traficantes, o que relatei à polícia foi que o meu esposo tinha levado a moto e eu estava preocupada, pois, dias antes, ele já havia penhorado a moto em uma boca de fumo. Eu cheguei a ir em boca de fumo atrás dele, mas jamais denunciei nenhum traficante. Não precisavam ter matado o meu marido”.

REMORSO

Ela frisa, ainda, que “sinto-me culpada, muito arrependida e o remorso me corrói. Mas, eu sequer imaginei que matariam ele. Deus sabe a dor que estou sentindo. Nosso filhinho, de 5 anos, me pergunta pelo pai e eu fico desesperada. Não contamos a ele que o pai nunca mais voltará para casa. Sobre mim, parece que morri no mesmo dia que ele porque, além da dor de perdê-lo, tenho que estar o tempo todo dizendo ao nosso meu filho que o pai está trabalhando num lugar longe. Essas pessoas que mataram meu esposo, acabaram com a minha vida e a de meu filho”.

Anderson era servente de pedreiro e trabalhava com o pai. De acordo com Krys, “todo o dinheiro que ele pegava no serviço a gente colocava em minha conta como forma de proteger o nosso sustento, evitando que fosse gasto com drogas”. Há menos de um mês, o rapaz tinha vendido um terreno e recebido R$ 30 mil em dinheiro, quantia também depositada na conta da mulher, com quem era amasiado há seis anos.

Krys informou que o casal iria se mudar de Vilhena no dia posterior à morte do marido. “Decidimos tentar a vida em outro estado para que ele pudesse abandonar o vício. Não deu tempo”, lamenta.

MEDO

A viúva observa que, por medo de acontecer “algo ruim” com ela, não foi ao enterro do marido e deixou a cidade um dia depois do crime. Krys preferiu não ter foto, nem seu nome exposto, apenas o apelido. “Quero justiça para o Anderson, porque ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, ainda mais como foi tirada a dele. Meu esposo já tinha penhorado a moto, então não havia motivo pra eles fazerem o que fizeram”.

Neste ponto, ela atribui a culpa do que aconteceu à imprensa. “Alguns veículos de comunicação publicaram o teor do B.O que registrei e, desta forma, os traficantes ficaram sabendo que o caso tinha ido para a polícia e tomaram as providências deles”.

A MORTE

Anderson e o amigo foram colocados num carro por três homens e levados até a Linha 152, Setor 12, Gleba Corumbiara, para serem executados. De acordo com as informações repassadas à polícia pelo sobrevivente, quando desceram do veículo, os dois já começaram a correr, pois pressentiram que iriam ser mortos. Anderson acabou atingido por um tiro nas costas e apresentou um ferimento na cabeça, compatível com uma coronhada, morrendo no local. O outro rapaz também foi baleado e, como o lugar era bem perto da cidade, conseguiu pedir ajuda ao Corpo de Bombeiros, sendo resgatado e levado para atendimento médico.

A MOTO

A viúva informou que, apesar de ter sido colocada no nome dela, a moto – pivô do crime – tinha sido comprada pelo marido. “Não sei onde ela está agora, mas sei que os bandidos estão soltos e isso me enche de medo porque essas pessoas não têm compaixão, não pensam na família de suas vítimas, não querem saber se têm filho, pai, mãe, irmãos, que vão sofrer essa dor tão imensa. Hoje, eu vivo com medo”, reforça, acrescentando que não tinha tido nenhum comunicado sobre o veículo ter sido recuperado pela polícia até à tarde de hoje (22/07).

Foto: Arquivo Pessoal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *